Mas eu vou te contar algumas coisas sobre educação antirracista.
1. Essa palavra não faz sentido pra maioria das pessoas brancas que não convivem com pessoas negras. Elas fingem que entendem e que praticam, só que não.
2. Ainda não há palavras e termos definidamente adequadaos para se tratar do assunto. É impossível para uma pessoa branca (como eu) falar naturalmente sobre racismo sem correr o risco de expressar semânticas racistas, expressões inadequadas que incomodam. É difícil falar sobre racismo coletivamente sem constranger alguém. Por isso é preciso preparo, estudo, vivência, e saber perceber e reparar erros e más expressões que ocorrem.
3. As coordenações e direções, especialmente de escolas particulares, não estão preparadas para o efeito rebote da educação antirracista. Efeito rebote são os atos e boatos de reação às ações e atividades antirracista. Evangélicos se incomodam muito com tudo o que é afro, pro exemplo. Professores, diretores, coordenadores evangélicos, ou pseudoliberais cheios de "mas" em cada frase. Como ter uma escola antirracista quando se tem profissionais da educação que classificam tudo o que afro como algo ruim e errado?
4. Não dá pra construir narrativas e conceitos antirracistas no Brasil sem conhecer ou considerar "religião, ou religiosidade. Tudo o que é afro tem relação ancestral. Tudo que tem caráter ancestral tem caráter espiritual. A "macumba" quase sempre vai aparecer numa aula ou pauta antirracista. Tem coragem de falar de macumba na escola?
Eu, fiz meu primeiro vlog da vida, no YouTube, em 2013, sobre consciência negra. E eu, bem jovem, sem nenhuma especificidade, afirmo no vídeo que coordenações e gestões também precisavam se preparar para as reclamações e reações de pais, pois essas escolas e sistemas de ensino estavam cumprindo a lei 10639.
Pois bem, alguém fez a fofoca pra direção do colégio privado que eu trabalhava. A diretora e coordenadora se ofenderam, me acusaram de expô-las e me demitiram. Assédio moral descarado. Mas eu era jovem de 25 anos e nem entendi direito o que aconteceu, e ainda saí pedindo desculpas. Mas... Xangô viu.
Exercer educação antirracista é bastante complexo. E complexo de formas diferentes pra profs brancos e negros. Diferentes no colégio de freira rico e na escola pública da quebrada.
Educação antirracista é triste, é revoltante, mexe e remexe feridas, mágoas e traumas. Exercer educação antirracista força crianças inocentes que a maldade existe, e se dá principalmente em forma de racismo, através do racismo e por causa do racismo.
Todos os problemas que existem ficam piores por causa do racismo.
Se a gente parar pra reparar mesmo, o horror do racismo tá pra todo lado. Nas linhas do metrô onde a cor das pessoas ficam mais ou menos escuras de acordo com a cor da linha e do bairro que passa. Todo e qualquer número de morte, de guerra, de doença evitável, de fome, de violência de todo tipo, entre negros é pior.
O gosto que fica na boca, após uma aula de História antirracista, é um gosto bem amargo.
Só que não dá pra não falar.