Compartilhando saberes, por Alan Geraldo. Professor de História, Candomblecista e escrivinhador.
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
Bater Cabeça: submissão, adoração, respeito, confiança
Dentro das tradições simbólicas nas religiões afro-brasileiras em geral, a ato de “bater cabeça”, ou seja se prostrar com a testa no chão aos pés do Sacerdote ou da própria entidade a que se está cultuando é comum a quase todas. Mas afinal, o que significa ou envolve tal atitude?
Macumba?!?! Não chuta que eu gosto.
Macumba é:
Festa
Comida
Música
Dança
Fé
Roupa linda
Alegria
Pé no chão
Encontro
Energia
Ancestral
Força
Tambor
Cantar
Gratidão
Devoção
Natureza
Diversidade
Liberdade
Mistério
Razão
Circularidade
Resgate
Ritual
Conexão
Acolhimento
Harmonia
Amor
Compreensão
Respeito
Família
Orixá.
Qualidade de Orixá
O culto aos Orixás no Brasil se estruturou a partir da formação de um Xirê composto para alcançar a diversidade do culto em África. Muitas pessoas de variados reinos iorubas vieram para cá, trazendo consigo seu culto ancestral. Esse Xirê cumpre então a função de integrar em um único culto diferentes Orixás, cultuados de maneiras diferentes. Porém a diversidade de Orixás, na realidade é bem maior do que, os 16 Orixás que compõem o Xirê. E é daí que nasce a ideia de qualidade de Orixá.
Existem diferentes critérios para atribuir qualidades aos Orixás. Citarei aqui três exemplos. Ogum, Odé e Xangô.
Ogum, enquanto ancestral, foi um general de Guerra e rei de Irê. Conquistou muitos outros reinos ao longo de sua vida. Cada fase de sua existência foi marcada por conquistas, eventos e situações singulares que o caracterizaram e expandiram seu culto para diferentes e regiões. Desse modo cada qualidade de Ogum representa uma passagem de sua vida em que ele conquistou e viveu em determinada região e passou por situações diversas.
Odé, por sua vez, é um título. Odé significa caçador. Um dos mais importantes cargos dentro dos reinos iorubas era o de Caçador. Todo reino, toda aldeia, toda cidade ioruba tinha o líder e um grupo de caçadores. Nas terras de Kêto, Akueran era o caçador e rei. As terras de Igbô tinham seus caçadores e assim por diante. Portanto, cada qualidade de Odé, na visão de ancestralidade, é um Orixá diferente. Odé Akueran, Odé Ibô, Odé Ibôalamo, Odé Danadana. São essencialmente Orixás diferentes. Porém cultuados no Brasil de forma semelhante como um único Orixá.
Xangô é proveniente de uma linhagem real do Império de Oyó. Ao longo de séculos de existência do Império de Oyó muitos reis se sucederam. Dentre esses reis estão Airá, Aganju, Agodô, Afonjá, Xangô. Então mais uma vez temos um diferente critério para atribuir uma qualidade.
É fato que iniciar e cultuar um Odé ou um Xangô de qualidades diferentes não é exatamente a mesma coisa. Odé Akueran era cultuado, em África, com alguns rituais e elementos diferentes de Odé Ibô. Da mesma forma, existiam regiões dentro do Império de Oyó que prestavam culto a Airá enquanto outras regiões prestavam culto a Xangô. Então, quando os iorubanos vieram para o Brasil, trouxeram consigo esse conhecimento. É por isso que quando falamos, por exemplo, em Airá e Xangô, existem sim algumas particularidades no culto de cada um, porém eles estão inseridos, no Brasil, dentro de um mesmo culto, portanto podem ser cultuados como o mesmo Orixá. Numa visão antropológica eles não são o mesmo, mas numa concepção litúrgica de culto e ancestralidade eles estão no mesmo culto. Compartilham dos mesmos elementos, dos mesmos cânticos, dos mesmos rituais, salvas algumas exceções de detalhes como cores predominantes.
Pai Agenor Miranda, relata em uma entrevista que antigamente os Pais e Mães de Santo tinham como hábito auxiliar e trocar conhecimentos uns com os outros. Quando um não sabia como fazer os atos de determinado orixá, ou mesmo de determinada qualidade, outro auxiliava numa relação de amizade e compartilhamento, sem críticas e conflitos. Sem querer disputar filho$ de $anto ou cliente$. Isso pelo simples fato de que o conhecimento de cultos era diferenciado de acordo com a origem de cada um. O que assistimos hoje, comumente, são conflitos, contradições, críticas, discórdias sem fundamento histórico, religioso, antropológico ou litúrgico.
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