segunda-feira, 30 de setembro de 2024

o número 16 no Candomblé

No Candomblé são 16 Orixás porque o número 16 é base do sistema do oráculo de Ifá. 

Oráculo é aquilo que serve para se comunicar com o invisível, com os ancestrais, e até com o futuro e o passado. 

Essa doutrina denominada Ifá preserva e reúne os saberes, mitologias, filosofias e história da civilização iorubá. 

O Candomblé foi organizado por pessoas com influência dessa tradição que perante tanta gente, de tantos lugares diferentes, precisavam representar de forma simplificada e resumida essa base da cultura dos Orixás. Daí escolheram 16 principais (até com adaptações genéricas para facilitar a organização) e estabeleceram o Xirê, que é justamente uma sequência de 16 orixas que representam terras, reinos e subculturas iorubás.  

O xirê, por sua vez, conta e representa passagens específicas das histórias desses Orixás, assim como da relação uns com os outros. 

Tem uma parte do xire que louva Xangô, a roda de Xangô. As cantigas que se canta nessa parte exaltam Xangô como o grande rei, Obá, que também pode ser lido como imperador. Oió era a capital de um Império, de onde Xangô conquistou e unificou diversos outros reinos.

Ou seja, o Xirê é como os antigos teatros gregos, chineses, romanos. Nele se reproduz, se canta, se dança, se interpreta a HISTÓRIA da civilização ioruba que veio pro Brasil. 

E naturalmente, esse Candomblé de base Ioruba se inspirou e se fundiu, e trocou modos e saberes com as pessoas da civilização bantu que aqui já estavam. E com os indígenas que também são cultura base do Candomblé em geral. 

Ah, e os primeiros terreiros urbanos nas capitais como Salvador, Recife, São Luís só funcionavam com a autorização dos padres nas paróquias nas regiões periféricas das cidades. E é daí que vem a tradição de tomar a benção do padre depois de fazer o santo. E convenhamos, é uma tradição bem colonizada. 

Macumba é muito mais que despacho na encruzilhada e amarração pra gente casada. 

Macumbeires do mundo, uni-ves! 🏹⚒️

Racismo Reverso

Isso não existe. Se você é uma pessoa branca nunca afirme isso. É uma imensa falta de respeito com nossa história, com nosso povo, com qualquer pessoa negra. 

Existem pessoas negras que podem pressupor que "se é branco é rico"; pressupor que "por ser branco é racista"; pressupor que por ser branco não sabe sambar, não pode fazer rap. Pode acontecer de uma pessoa branca estar em um "ambiente negro" (candomblé, escola de samba, batalha de rap, festa de congado, etc) e não se sentir acolhido, ou se sentir invisível pois ninguém interage com ela. Pode acontecer de uma pessoa branca se relacionar como uma pessoa negra e não ser bem aceito na família. Mas isso não é racismo reverso. Isso não é racismo.  

Essas situações que pessoas brancas podem ocasionalmente passar não é nem uma fração do que pessoas negras, pardas e indígenas passam durante toda a vida.

 Não se compara um simples constrangimento ou rejeição social com a horrenda realidade de violência e humilhação que o racismo estrutural, histórico e cotidiano causa a mais da metade da população brasileira e mundial. 

E convenhamos, não há fatos ou argumentos biológicos ou sociais que justifiquem o racismo. Mas há fatos e argumentos históricos e sociais de sobra que justifiquem a rejeição e resistência do negro em relação ao branco. 

#racismonão #antirracista #antifascita #humanizando

Quilombos e senzalas

Quilombos e senzalas são ambiente afroindígenas, por essência. Não há africanidade pura em nenhuma tradição afro-brasileira. 

Quando os navios com pessoas africanas chegaram já existiam senzalas com pessoas indígenas. 

Quando as pessoas africanas fugiam pra dentro já existiam comunidades indígenas se reorganizando por questões de conflitos entre si, tanto pré existentes quanto por efeito da peste branca em forma de gente cristã. 

Mestiçagem, sincretismo, miscigenação. Seja lá qual for o nome, não há "pureza" de tradição, ou nação, ou fundamento. 

Candomblé, capoeira, catimbó, Maracatu, bumba-meu-boi. ..tudo afroindígena.

domingo, 29 de setembro de 2024

Ubuntu é axé

Há uns anos que se fala em UBUNTU. E de fato é uma ideia encantadora que valoriza África e africanidades. 

O que muita gente não sabe é que a macumba é Ubuntu desde sempre. Pq Ubuntu é a ideia em que todo mundo cuida de todo mundo como se fosse irmão, e pai e mãe, todo mundo de todo mundo. Então, na macumba todo mundo com mais experiência é pai ou mãe. Todo mundo com menos experiência é filho. E todo mundo é irmão de todo mundo. E todo mundo toma benção uns dos outros, e todo mundo abençoa uns aos outros. Então essa coisa africana já tá aqui muito antes de livros e cursos e relatos antropológicos. 

Ubuntu é axé. Axé é Ubuntu.

Hierarquia e poder na sociedade de terreiro

Umas das questões mais evidentes e complexas da cultura de terreiro é a formação de pequenos núcleos ou células de hierarquia e exercício de poder.
As formas como os terreiros se constituem e se organizam, assim como a forma com que uma pessoa se torna um sacerdote é, acima de tudo, muito espontânea. Nesse fenômeno hiper diversificado que é a religiosidade de terreiro, não há bem regras definidas, procedimentos pensados e organizados por lideranças específicas, com determinados espaços de debates, estatutos regulatórios, nem nada do tipo. O que há é algumas regras tradicionais, orais, e difusas, que não compreendidas ou seguidas, de acordo com a vontade ou capacidade de entendimento de quem se propõe a ser uma pessoa líder de comunidade de terreiro.
Grosso modo, os líderes conduzem suas comunidades conforme sua própria visão e interpretação da coisa toda, e de um somatório de suas próprias experiências e saberes.
Mas nesse fenômeno de comunidades, lideranças e sacerdócios espontâneos, há uma questão socialmente importante e psicológica e antropologicamente complexa.
A possibilidade de se tornar líder, alguém importante e seguido. Alguém que será admirado, bajulado e adorado por seus seguidores, dentro de uma relação sagrada de fé, lealdade e servidão, abre espaço para o exercício de todo tipo de irresponsabilidades e abusos de todo tipo.
Um pai ou uma mãe de Santo, ou seja, um líder de comunidade, exerce um poder e um influência no comportamento e nas atitudes de outras pessoas que é até difícil compreender. É algo de subconsciente coletivo de nossa sociedade. Quando alguém se apresenta como pai ou mãe de santo, as pessoas de sendo muito comum, de muita fé e pouca escola, acabam depositando as decisões da vida nesse líder. Como se ele representasse a vontade dos Orixás. E essa relação e forma de enxergar esse líder, pode ser fundamental para que essas pessoas conduzam sua própria vida, ou pode ser uma grande armadilha para abusos e assédios financeiros, morais, sexuais e outras violências.
O fato é que qualquer sacerdócio, de qualquer cultura religiosa, é uma existência de servir, de estar disponível, de cuidar, de tomar decisões pela vida dos outros, de acolher até mesmo quem faz o mal. Ao passo que a vivência de terreiro faz muita gente acreditar que ser sacerdote é ser servido e adorado. É exercer autoridade e poder, e fazer valer suas vontades. Uma coisa é consequência da outra, nessa ordem descrita acima, e não o contrário.
Pessoas que se formam em terreiros e experimentam viver como líderes, sem compreender a complexidade do servir, a dimensão dos efeitos de sua ética, ou falta dela, na vida dos outros, fazem grandes estragos na vida de pessoas que depositam fé, lealdade, tempo, dinheiro na crença que de que aquele líder realmente zela por ti.

Sobre desigualdade

"Século XXI onde tudo é comum" dizia o poeta. É comum de tanto que tem e todo mundo aceita. 

Mas nem tudo que é comum é igual pra todo mundo.
Um vírus ou bactéria pega qualquer um, mas também mata na ordem direta e proporcional da sua classe social. 

Tem muita coisa que não é comum, coisa que tem gente que tem sobrando, e tantas outras que tem gente que não tem nada nem nenhum. 

Tem quem não tem renda, nem salário, vende almoço e compra a janta, todo dia sem nem férias nem feriado, pois em casa a fome aperta, o menino tá gripado.

Tem gente que não tem dinheiro pra nada, e reza pra não ter que ter despesa surpresa de farmácia. 
 
Nem mesmo pro detergente, ou pra ração do cachorro, se sabe se vai sobrar. 

Tem tanta gente que nem água de beber ainda tá tendo, mesmo com quase tudo conectado. 

Tem criança e adolescente que não tem nem mesa dentro de casa pra sentar, nem janela pra abrir, pra deixar o quarto arejar. Que dirá internet, computador, celular pra estudar. Haja fé no Mérito. 

Tem quem não pode comprar um tanto a mais pra guardar caso faltar. Come o que tem hoje, amanhã vê no que dá. 

Tem muita gente que nada tem além da sorte, de Deus, dos santos, guias e orixás, e da capacidade des se virar e sobreviver, no que der, quando der, se der, se Deus dá.

Sobre comunismo, nazismo e morte

É comum argumentos rasos que comparam nazismo e comunismo com números de mortos. Quando pessoas com simpatia ao nazismo, ou antipatia ao comunismo, ou as duas coisas, não sabem falar sobre comunismo, elas costumam afirmar que na China de Mao Tsé Tung e na União Soviética morreram muito mais pessoas que no nazismo. 

Esse é um raciocínio leviano, ou seja, raso. Pq? 

 Vamos comparar a quantidade de africanos e indígenas que morreram (e morrem) e foram escravizados ( e são) por 5 séculos. Daí a gente compara o catolicismo e o protestantismo com base em quantas pessoas ambos mataram? Daí a gente tem o valor de uma e de outra religião. Afinal o número de mortos que aquela fé/ideologia causou define o valor de ambas, uma melhor outra pior. 

É basicamente a mesma coisa. Vamos julgar os católicos pelo que fizeram com indígenas como julgamos nazistas pelo que fizeram com judeus? Faz sentido o raciocínio? 

Comparar nazismo e comunismo é comparar ideologias e motivações para ações de pessoas. 

Comparar o número de mortes em regimes totalitários com base em registros oficiais do Estado, que envolvem tempo, geografia, população, cultura, etc., e a partir daí comparar a ideologia por traz das ações deste Estado é leviano. É coisa de quem estuda pouco ou nada. 

Comparar nazismo e comunismo com base em número de pessoas mortas durante seus regimes de Estado é preciso considerar a motivação por trás do Estado. As justificativas e objetivos daqueles que dão as ordens nesse Estado. 

Não há na causa do catolicismo, nem do protestantismo, o extermínio é escravização de outras raças. Mesmo que políticos, filósofos e padres e pastores sempre tenham participado disso, mas nem todos.  

Não há na causa comunista, ditaduras, prisões e tortura política, perseguição de familiares. Mas Estados comunistas praticaram e praticam isso. Assim como cristãos escravizam, exploram e matam outras pessoas em nome de uma ideologia que não defende aquilo que eles fazem. 

O Nazismo defende o extermínio, a escravização e a tortura como ação do Estado com justificativas científicas, culturais e religiosas. 

É disso que se trata.

Educação antirracista

Muito se fala em educação antirracista. Muito mesmo. Virou até capital de currículo, marketing digital pra empresários e polítiqueiros da ed...