quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Bater Cabeça: submissão, adoração, respeito, confiança

Dentro das tradições simbólicas nas religiões afro-brasileiras em geral, a ato de “bater  cabeça”, ou seja se prostrar com a testa no chão aos pés do Sacerdote ou da própria entidade a que se está cultuando é comum a quase todas. Mas afinal, o que significa ou envolve tal atitude?
O ato de “bater cabeça” carrega em si vários significados.
Das mais antigas tradições dos reinos teocráticos de todo o mundo, a relação com o chefe de governo era sagrada. Não se podia olhar nos olhos de seu rei ou de sua rainha. Em sua presença os súditos ficavam prostrados ao chão.
 Os africanos vindos como escravos para o Brasil viviam, em África, nesse mesmo tipo de sociedade. Reinos e cidades-estado teocráticos. Mantinham relações totalmente sagradas com seus reis, rainhas, príncipes e princesas. E tais relações eram de comum acordo, pois, por ser considerada sagrada, não necessitava de obrigatoriedade pela força. A própria relação com o sagrado predispunha os súditos ao respeito às leis. Ninguém contestava, salvo excessões, a legitimidade da autoridade por uma questão cultural de reconhecimento ancestral e religioso daquele ou daquela sacerdote.  
Os candomblés de nação formados no Brasil buscaram preservar muitas dessas tradições comuns aos reinos, pois não se separava sociedade, política e religião. Da mesma forma não foi possível separar totalmente as tradições religiosas reproduzidas aqui das tradições sociais do cotidiano. Em outras palavras, quando se estruturou os Candomblés de Nação, em especial o Ketu. E uma dessas permanências foi a relação com o sacerdote como um governante daquela mini-sociedade, no caso os terreiros e casas de Candomblé. Ou seja, a princípio o ato de “bater cabeça” é a reprodução de uma relação entre líder e súdito milenar e comum a muitos povos.
Além da tradição social, existe a relação com a terra. Nosso “Ori”, ou seja, nossa cabeça, nossa mente tem como referência de sagrado a terra e não o céu. Da terra viemos e a ela voltaremos, como diria o cristão. Sempre quando se menciona o nome de alguma entidade importante se volta a cabeça ao chão, à terra que é a origem e o fim de tudo que é vivo e orgânico.  Louvamos a terra e não ao céu. O gesto de levar a mão ao chão e depois ao “Ori” para então beijar a mão novamente, nada mais é do que a representação de “bater cabeça”.
A autoridade é outro fator importante. Quando você se presta a colocar-se de cabeça ao chão perante outra pessoa, no caso o Sacerdote (Babalorixá ou Yalorixá), você se declara, perante a sociedade, submisso àquela pessoa. Porém não é apenas uma submissão política e social. Mas sim sagrada em que se entrega a própria vida, as próprias decisões àquela pessoa.
Muito bem. Deveria ser assim. Mas para a maioria das pessoas é um gesto convencional. Muitos praticam, mas não sabem seu significado. Prostram-se aos pés de pessoas que não respeitam, apenas para cumprir uma formalidade sem saber da importância e do significado de tal gesto.
Assim como o “bater cabeça” muitos outros gestos, símbolos e relações dentro dos Candomblés de Nação buscam preservar tradições que vão além do campo religioso. Isso porque religião, política, sociedade não se separava nas sociedades africanas Yorubás e Bantus. Assim como não deveria se separar em nenhuma sociedade, pois é na ética e dos valores religiosos que buscamos e inspiramos nossas atitudes sociais e políticas.

Macumba?!?! Não chuta que eu gosto.

Macumba é:

Festa

Comida

Música

Dança

Roupa linda

Alegria

Pé no chão

Encontro

Energia

Ancestral

Força

Tambor

Cantar

Gratidão

Devoção

Natureza

Diversidade

Liberdade

Mistério

Razão

Circularidade

Resgate

Ritual

Conexão

Acolhimento

Harmonia

Amor

Compreensão

Respeito

Família

Orixá.

Qualidade de Orixá

 O culto aos Orixás no Brasil se estruturou a partir da formação de um Xirê composto para alcançar a diversidade do culto em África. Muitas pessoas de variados reinos iorubas vieram para cá, trazendo  consigo seu culto ancestral. Esse Xirê cumpre então a função de integrar em um único culto diferentes Orixás, cultuados de maneiras diferentes. Porém a diversidade de Orixás, na realidade é bem maior do que, os 16 Orixás que compõem o Xirê. E é daí que nasce a ideia de qualidade de Orixá.
Existem diferentes critérios para atribuir qualidades aos Orixás. Citarei aqui três exemplos. Ogum, Odé e Xangô.
Ogum, enquanto ancestral, foi um general de Guerra e rei de Irê. Conquistou muitos outros reinos ao longo de sua vida. Cada fase de sua existência foi marcada por conquistas, eventos e situações singulares que o caracterizaram e expandiram seu culto para diferentes e regiões. Desse modo cada qualidade de Ogum representa uma passagem de sua vida em que ele conquistou e viveu em determinada região e passou por situações diversas.
Odé, por sua vez, é um título. Odé significa caçador. Um dos mais importantes cargos dentro dos reinos iorubas era o de Caçador. Todo reino, toda aldeia, toda cidade ioruba tinha o líder e um grupo de caçadores. Nas terras de Kêto, Akueran era o caçador e rei. As terras de Igbô tinham seus caçadores e assim por diante. Portanto, cada qualidade de Odé, na visão de ancestralidade, é um Orixá diferente. Odé Akueran, Odé Ibô, Odé Ibôalamo, Odé Danadana. São essencialmente Orixás diferentes. Porém cultuados no Brasil de forma semelhante como um único Orixá.
Xangô é proveniente de uma linhagem real do Império de Oyó. Ao longo de séculos de existência do Império de Oyó muitos reis se sucederam. Dentre esses reis estão Airá, Aganju, Agodô, Afonjá, Xangô. Então mais uma vez temos um diferente critério para atribuir uma qualidade.
É fato que iniciar e cultuar um Odé ou um Xangô de qualidades diferentes não é exatamente a mesma coisa. Odé Akueran era cultuado, em África, com alguns rituais e elementos diferentes de Odé Ibô. Da mesma forma, existiam regiões dentro do Império de Oyó que prestavam culto a Airá enquanto outras regiões prestavam culto a Xangô. Então, quando os iorubanos vieram para o Brasil, trouxeram consigo esse conhecimento. É por isso que quando falamos, por exemplo, em Airá e Xangô, existem sim algumas particularidades no culto de cada um, porém eles estão inseridos, no Brasil, dentro de um mesmo culto, portanto podem ser cultuados como o mesmo Orixá. Numa visão antropológica eles não são o mesmo, mas numa concepção litúrgica de culto e ancestralidade eles estão no mesmo culto. Compartilham dos mesmos elementos, dos mesmos cânticos, dos mesmos rituais, salvas algumas exceções de detalhes como cores predominantes.
Pai Agenor Miranda, relata em uma entrevista que antigamente os Pais e Mães de Santo tinham como hábito auxiliar e trocar conhecimentos uns com os outros. Quando um não sabia como fazer os atos de determinado orixá, ou mesmo de determinada qualidade, outro auxiliava numa relação de amizade e compartilhamento, sem críticas e conflitos. Sem querer disputar filho$ de $anto ou cliente$. Isso pelo simples fato de que o conhecimento de cultos era diferenciado de acordo com a origem de cada um. O que assistimos hoje, comumente, são conflitos, contradições, críticas, discórdias sem fundamento histórico, religioso, antropológico ou litúrgico.

Sacrifício de animais no Candomblé: tradição e tabu


 

Transexualidade no Candomblé, é um tabu?


 

O que é Candomblé, uma introdução.


 

Bacia do Níger, cultura iorubá e Candomblé 2


 

Bacia do Níger, cultura iorubá e Candomblé


 

Marinheiro e o sentido sóciocultural da entidade sagrada


 

Preto Velho e o sentido sóciocultural da entidade sagrada


 

domingo, 20 de outubro de 2024

Identidade de terreiro

 A vida urbana nas grandes metrópoles tem, cada vez mais, conduzido à uma generalizada crise de identidade.
As pessoas crescem em um contexto de múltiplas influências culturais, entre grupo e tribos que se expressam cada um a seu modo. Roupas, cabelo, música, espaços públicos formam um mosaico quase infinito de possibilidades. Um dos grandes desafios da juventude é o enquadramento à algum dos muitos estilos que os rodeiam.
A caracterização dos estilos das chamadas tribos urbanas se dá pelo viés cultural e artístico, na maioria dos casos. Porém há outras dimensões que também servem como formadoras e unificadoras de identidades como a religião.
O Candomblé é, sem dúvida, uma tradição que vai muito além de mais uma religião com seus códigos morais e éticos. Ele é permeado por uma extensa rede de significados e símbolos que a ancestralidade, a expressão da fé, a maneira de ver e interpretar o mundo, a relação com o mundo espiritual e com a natureza.
No Candomblé há diversos fatores que promovem a formação de uma identidade comum em torno de suas práticas. Um dos grandes fatores de formação de identidade é a ruptura com tabus culturais e sociais. A afirmação étnica, ou seja, o reconhecimento e expressão da negritude. Além disso. A expressão de uma negritude que está além da cor da pele. Que supera os limites da aparência física. No candomblé negros e brancos comungam da mesma linguagem, dos mesmos símbolos, dos mesmos rituais e da mesma esteira. É obvio que há exceções e incompreensões. Contudo nenhum tipo de intolerância é comum ao culto aos Orixás. Isso também cabe à questão de gênero e sexualidade. Normalmente a homossexualidade não é um tabu para os candomblecistas. Homens não são superiores às mulheres. Nem o contrário. Do mesmo modo em que há restrições para mulheres há para homens. Não existe nenhum tipo de restrição ou condenação à relacionamentos afetivos entre pessoas do mesmo sexo. Nem mesmo à maneira como as pessoas se comportam, se vestem e se expressam de acordo com seu gênero.  
O Candomblé é também a religião da convivência e da diversidade. Crianças e idosos, heteros e homos, brancos e negros, homens e mulheres, analfabetos e doutores, pobres e ricos. Todos são acolhidos no seio das casas de Candomblé. E fator máximo e unificador de tal diversidade se resume em uma coisa: a fé nos Orixás. Por isso é essencial perceber a impressionante singularidade desse tipo de formação de identidade. A fé nos Orixás, enquanto ancestrais comuns, une a diversidade. Determina a formação de círculos sociais únicos. Incomuns a qualquer outra religião.
Essa característica faz do Candomblé algo que vai além de uma mera religião, como já dito. As casas de Orixá são círculos sociais e culturais que dialogam, compartilham e se integram à blocos de afoxé, escolas de samba, centros culturais, ONGs, escolas de capoeira, grupo de dança, maracatus, congados e muitas outras manifestações. No entanto nunca devemos resumir ou equiparar o Candomblé em si a tais círculos sócio\culturais. Por que esse culto abranje e se relaciona com tais círculos, ele é, antes de tudo, uma religião. E enquanto religião é a fonte de doutrinação espiritual, de códigos morais e éticos que servem para reger seu comportamento, suas relações humanas, sua conduta pessoal. Enquanto religião, o Candomblé deve ser a fonte de evolução e crescimento da alma. Essa questão nos coloca diante de um grave problema no que diz respeito ao comprometimento e dedicação à prática religiosa. Há muitas pessoas que frequentam o Candomblé como um circulo social apenas, e não como religião. E os círculos sociais satisfazem anseios imediatos e superficiais tais como amizades, diversão, relacionamentos afetivos e sexuais. E como superficiais que são tais questões, se desgastam com o tempo. Portanto o compromisso com a casa a que a pessoa pertence ou com a própria religião como um todo também se desgastam quando a encaro como um círculo social. E as pessoas que assim conduzem sua vida espiritual são fadadas a viveram trocando de casa ou abandonam a religião. Isso quando não se convertem a outras religiões, principalmente evangélicas, e se dedicam a denegrir a imagem do Candomblé e seus adeptos. Buscando uma religião ou um local que preencha seu vazio, que na realidade não poderá ser preenchido por religião nenhuma, pois esse tipo de vazio não é religioso mas sim de personalidade. E tal vazio, o vazio de personalidade só pode ser preenchido pela humildade de estar sempre disposto a crescer em si mesmo. A reconhecer sua própria insignificância e ignorância perante a Natureza e aos sábios sacerdotes espirituais que dedicam suas vidas a tentar amenizar o sofrimento dos outros.
Não se enche copos que já estão cheios. Ou seja, pessoas que não se abrem à mudanças, que não buscam o autoconhecimento e auto-reflexão, não reconhecem os próprios vícios, defeitos e erros nunca se sentirão satisfeitas com religião alguma. E as pessoas que passam a freqüentar as casas de Candomblé e acabam se iniciando meramente pela questão de participar de um determinado círculo social pois se identifica geralmente chegam com seus copos cheios. E logo se cansam e saem denegrindo a imagem da religião em igrejas evangélicas e em outros círculos sociais. 



sábado, 19 de outubro de 2024

Quanto custa o Orixá

Os Orixás existem para serem louvados e não vendidos. O culto aos orixás, independente de sua forma vive um grave problema. A comercialização de sua fé. Quando se fala em “terreiro de macumba’”, em pai ou mãe de santo, às pessoas que não são adeptas imaginam um feitiço, uma mironga, uma mandinga para trazer o amor, arrumar um emprego ou prejudicar um inimigo. Mulheres e homens traídos e vendedores que não conseguem vender são os que mais procuram. O jogo de Búzios é um instrumento de adivinhação nesse comércio. O ebó é algo que tem como objetivo resolver os problemas das pessoas. A iniciação é algo que trará o melhor emprego, o melhor companheiro, ou companheira, e todos os problemas das pessoas são resolvidos depois de iniciados. Estabelece-se uma relação exclusiva de troca entre o Orixá e aquele que cultua. Existem pessoas que colocam o Orixá de castigo. Fazem ameaças do tipo: “se você não me trazer tal coisa não lhe darei de comer”. Dentro de um terreiro se louva a roupa mais bonita e mais cara. O pé de dança de quem está incorporado. A comida e a bebida que serão servidas após o culto. A relação entre fé e dinheiro no culto aos Orixás é muito presente e negativa.
Os motivos que levam a tal questão são muitos. Fazendo comparações podemos afirmar que em outras religiões também há tal relação. Porém elas são institucionalizadas. O adepto tem consciência que sua contribuição tem um fim, seja ele justo ou não. Toda religião precisa de templo. Nesse templo se gasta com água, energia elétrica, manutenção do espaço. Na maioria deles servem-se comidas e bebidas de graça. Os sacerdotes e sacerdotisas precisam de moradia, tem gastos, comem, bebem, pagam contas. É claro que há abusos e enriquecimentos incoerentes, mas é fato que é necessário estabelecer um sistema econômico para manter um centro religioso. No culto aos Orixás não há uma instituição central. Cada casa é uma instituição presidida pelo Babalorixá ou Yalorixá. Assim sendo, para que se estabeleça uma organização econômica adequada os adeptos devem colaborar com tal instituição, na casa ou centro de culto aos orixás. O problema é que muitas pessoas, que ingressam no mundo do culto aos orixás, procuram soluções para problemas de dinheiro e/ou amor, na maioria das vezes. Assim sendo, essas pessoas não estão dispostas a realmente fazerem parte de uma instituição religiosa organizada. São pessoas que não mantém um compromisso com mensalidade, com freqüência e contribuição para a manutenção da casa a que faz parte. Nesse caso, o Babalorixá ou Yalorixá tem trabalhar em outros tipos de emprego para sustentar sua própria casa ou recorrer ao comércio do jogo de búzios, dos ebós, dos feitiços para amor e dinheiro e até àqueles para prejudicar inimigos.
Filhos de santo não sustentam seu templo. Não o valorizam como tal. Salvo as exceções. Assim, no fim das contas, são os clientes, os que menos se beneficiam com a força do Orixá que acabam sustentando a existência do Axé e dos sacerdotes e sacerdotizas.

Nessa realidade muitas pessoas se tornaram sacerdotes espirituais sob duas condições. Ou compartilhando dessa prática deturpada ou lutando contra ela. E a fonte do problema é mais sutil do que parece. A falta de entendimento sobre a própria religião. A falta de consciência de que o culto aos orixás é uma religião que tem fundamentos muitos sérios. Existe ética e moral em toda sua existência e nas regras que a regem. 

Candomblé de Nação



A pura racionalidade em palavras e argumentos nunca dará conta de explicar o que realmente é o culto ancestral dos Orixás. Isso porque as concepções de mundo na tradição Iorubá, que constituiu e ainda constitui umas das mais autênticas e singulares expressões de culto Ancestral do mundo. Temos no Brasil um grande expoente, talvez um dos maiores exemplos desse culto ancestral em plena existência, preservada e em expansão: o Candomblé de Nação Ketu¹. O Candomblé enquanto uma religião constituída a partir do culto ancestral Iorubá, tem como conceito estrutural a reconstituição de uma Nação territorialmente perdida no ato do embarque de um navio negreiro.

 Oió, Ilê Ifé, Ifé, Ketu, Osogbô, Irê, eram nações politicamente independentes e cultural e ancestralmente interligadas, que por resultado de um conjunto de fatores  Oduduwa é o patriarca dos reinos iorubas, sendo histórica e mitologicamente associado à fundação da cidade de Ifé após uma longa migração proveniente das regiões árabes (aproximadamente séc. IX d.C.).



Portanto temos aqui uma matriz primordial de toda a cosmogonia, mitologia, sistema oracular e numerologia iorubana: grupos provenientes do norte da África e regiões Árabes. Ao longo do tempo o idioma Iorubá subdividiu-se em dialetos ao longo das regiões e sub-grupos e reinos independentes, tais como os Ibô, (…). Séculos depois o trágico processo de expansão das atividades comerciais escravistas interligou, em interesses territoriais e econômicos, a expansão bélica/religiosa do mundo Islâmico ao lucrativo comércio de escravos para a América. E dessa interligação resultou em uma feroz expansão Jihadista e comercial empreendida pelo mundo islâmico aos reinos Iorubas que tinha como mercado de consumo de seus despojos de guerra (pessoas) portugueses, ingleses e espanhóis.  

É nesse cenário que predominava a hegemonia do Império de Oyó sobre outros reinos e sub-nações*, especialmente sobre o grupo Jeje. Um grupo linguístico irmão ou derivado do tronco Iorubá. Inclusive, segundo fontes diversas (José Beniste, Roger Bastide, Pierre Verger e outros) A diáspora forçada de grupos Jejes para a américa é também resultado de conflitos diretos com Iorubás e com os Haussás (grupo proveniente do norte da África, islamizados). Esse conflito amplo estabeleceu-se intensamente em fins do séc. XVII à meados do séc. XVIII.


Enquanto os altos círculos estruturais da sociedade brasileira se organizava suas articulações para manutenção arbitrária e entreguista de suas devidas estruturas de poder político e econômico, e ao mesmo tempo executava um projeto exclusivamente eurocêntrico de formação de uma nação “brasileira” (tal qual Missão Francesa), os grupos Iorubás chegaram e trataram de reorganizar, refundar sua nação ancestral, com a qual existia uma ligação dos mais variados e profundos aspectos. Foi organizado no Brasil um culto ancestral a partir do estabelecimento de 16 representantes do conjunto de nações de que eram provenientes a maioria dos iorubanos aqui presentes. O famoso Xirê composto por Exú, Ogum, Odé, Ossãe, Omolu, Oxumarê, Nanã, Iansã, Obá, Iewá, Oxum, Logun Edé, Xangô, Iemanjá, Oxaláguian, Oxalalufã. 


Cada um reprensentando uma região, uma cidade, uma linhagem específica que compunha a grande “nação” Iorubá.  As matriarcas Iyá ADetá, Iyá Kalá, Iyá Nassô, Babá Assiká e Bangboshê Obitikô conforme fontes como Pierre Verger e Renato da Silveira, pertenciam à linhagem direta do culto ancestral de Oyó, cidade-Estado predominante com estruturas de um império, o Império de Oyó. Tal império tinha por sua vez uma cidade-Estado integrada e aliad: Ketu. Esses eram os locais mais prósperos e dominantes do período da expansão islâmica. Portanto essas matriarcas reproduziram em uma dimensão religiosa algo que muito se aproximou da configuração nacional de grande grupo étnico. O candomblé de Nação Ketu é a síntese das nações (cidades-Estado, sub-regiões e reinos) do centro-oeste Africano, especificamente entre as inúmeras veredas que compõem a bacia do rio Níger. 



Essa síntese carrega em si uma coletânea de virtudes, com um acervo vasto de representações mitológicas, memórias tradicionalmente preservadas como um valioso baú de conceitos teológicos, concepção cósmica, princípios éticos, sistema oracular e simbólico que conecta espiritualismo, ancestralidade, forças/leis da natureza, misticismo e energia. Síntese que preserva a memória de ancestrais fundamentais na existência das muitas subnações Iorubás. Os Obás Odé e Xangô. O Patriarca Oxalufã. As matriarcas Iemanjá e Nanã, sendo que Nanã, seu filho Obaluayê (Omolu), também um antigo rei que teve suas terras invadidas pela expansão de Oyó. Fato que determinou a presença de muitos elementos de origem Jeje dentro do Candomblé de Nação Ketu.
O Brasil, tem em sua rica diversidade de matrizes que resultaram em ainda mais diversificadas tradições, uma especificamente singular porém muito pouco explorada. As tradições reproduzidas no seio de um grupo que pratica o Candomblé de Nação Ketu reproduz no tempo e no espaço, a resistência cultural de uma nação, no sentido mais essencial da palavra. As saudações, os símbolos, cores, rezas, palavras de uso cotidiano, ritmos, melodias, gestos, danças, procedimentos diversos.  Os mitos e ritos que consagram cada ação e atitude. Existem ritos que consagram o alimento, os objetos (babalaxé nylewá), a iniciação, as folhas, o sangue, o banho, a água, o álcool, os temperos, a carne, o sacrifício, os antepassados, o vento, o fogo, a pedra. Tudo é cotidianamente sacralizado com rezas e cânticos (orikis, adurás e adarins) dentro uma comunidade de candomblé. As noções de certo e errado (apesar da forte influência cristã) os princípios morais, a relação do ser com seus vícios, tudo isso é evidentemente autêntico com fundamentos sólidos e singulares proveniente de um grupo específico que apesar do contexto de violência extrema e opressão, conseguir organizar. Além disso, o Axé enquanto força cósmica que transmitimos de nós mesmos em conformidade e sintonia com os ancestrais, como se fosse a energia mais essencial à nossa existência como parte do universo. A pedra, o vento, a água, sua mente, seus suor. Tudo tem axé. Cargos administrativos vinculados à hierarquia religiosa (Babakekerê, Ialaxé, Axogum, Alabê, Pegigan, Babáegbé). Hierarquia religiosa baseada em compromisso com o servir, orientar, exemplificar e ensinar. A perpetuação oral e ritualística de um conhecimento milenar.
O Candomblé de Nação Ketu é um fenômeno religioso, cultural, político, ideológico, teológico, social e antropológico com uma imensa gama de possibilidades a serem compreendidas para serem valorizadas, preservadas e fortalecidas. E acima de tudo para que se tenha mais poder de preservação e resistência. Todos esses aspectos que compõem o universo do Candomblé de Nação Ketu é uma imensa fonte de informações, argumentos e evidências para a desconstrução de estereótipos e preconceitos ainda inexplorada. Fonte para buscar sanar a lamentável ausência de conhecimento específico. Para gerar argumentos em prol do respeito à diversidade assim como do auto reconhecimento por parte dos milhares de adeptos do Candomblé de Nação Ketu e de muitos outros cultos e tradições diretamente influenciados pelo culto ancestral africano. 

Maria Maria Maia

Natural do Rio de Janeiro, mais especificamente Bento Ribeiro, cresceu em uma família de católicos (brancos) na década de 1920.
Logo na infância sua espiritualidade começou a se manifestar intensamente com crises que ninguém compreendia. A família católica, sem saber mais o que fazer depois de levar a padres, procurou um terreiro. Lá ela conheceu uma das pessoas mais importantes da vida de nome Dinorá. Foi com Dinorá, que era alguns anos mais velha, que Maria iniciou sua vida no culto aos Orixás. Foi feita de Xangô com Yansã dentro da tradição de Amolokô, muito comum no Rio de Janeiro.
Logo na adolescência saiu da casa em que morava e foi viver com Dynorá. A partir de então passou a viver exclusivamente para o culto aos orixás.
Em torno de seus 20 anos de idade conheceu um paulistano, por quem se interessou. Ele a convidou para se mudar para São Paulo para viverem juntos. E ela aceitou. Veio, com os orixás, seus guias e suas bolsas e se instalou em São Miguel Paulista junto com Antenor, o paulistano que com ela viveu até sua morte.
Nessa época São Miguel Paulista era quase uma zona rural. Com poucas casas entre sítios e fazendas. A avenida principal, Pires do Rio era de terra, e a única via de acesso ao centro da cidade. Havia também a Capela de São Miguel Arcanjo, que hoje é um museu histórico. Foi nesse lugar que ela fundou seu primeiro centro espiritual. Haviam na região da zona leste de São Paulo, alguns terreiros de Umbanda, e em poucos lugares, de Candomblé. Porém não existia Omolokô. E quando Maria começou seus trabalhos muitos acharam estranho aquela forma de culto, que parecia uma mistura de Angola com Umbanda. Mas ela, com sua forte personalidade não se incomodava com boatos, e manteve seus trabalhos por toda sua vida.
Ela teve várias filhas. Entre legitimas e adotadas, as que permaneceram ao seu lado até sua morte foram Nilvaci e Dirceni. Dirceni era ekdji de Yemanjá e ajudava sempre em todos os trabalhos. Nilvaci era curimbeira. Uma das mais famosas puxadoras de pontos da zona leste. Apesar de não ter muito gosto e afinidade com seu cargo espiritual, Maria não abria mão de sua presença.
Nilvaci teve quatro filhos. Dos quatro, dois seguiram os caminhos de Maria no culto aos orixás. Marcelo Fabiano Garcia, de Xangô, e Márcio Adriano Garcia de Ogum. Ambos são, atualmente, Babalorixás de Nação Ketu. Porém as raízes de seus ensinamentos estão naquilo que aprenderam com Maria.
Após alguns anos em São Paulo, Maria ficou muito conhecida em toda a zona leste. Sua fama corria, principalmente por sua forte personalidade e bondade. Sua disposição em sempre ajudar as pessoas era admirável. Muitos sempre relatam e relembram seus feitos, como abrigar pessoas em seu centro. Seus benzimentos eram os mais procurados da região. Hábil benzedeira, milhares de crianças tiveram suas palavras e rezas como fonte de força abençoada. Conseguiu deixar patrimônio, conquistado junto e pelos orixás, que serve ainda a seus bisnetos que não a conheceram em presença, mas a conhecem bem pelas histórias e “causos” tão contados e recontados por Marcelo e Márcio.
A Casa de Santo Axé de Ogum, da qual sou Babakekerê, e que seu neto Márcio de Ogum é Babalorixá, tem como bases morais e éticas, atos, rezas, fundamentos e práticas que pertenciam a Maria. Maria é o principal pilar de nossa casa, apesar de, em vida, seguir a tradição de Amolokô, e se auto intitulava de Umbanda. Mas isso não importa no momento, já que tudo é culto aos Orixás.
Após quase 20 anos de sua morte, suas frases, palavras, personalidade, caráter servem de inspiração aos mais novos, que nem mesmo a conheceram. Sua própria linhagem espiritual continua na quarta geração, com Jonatham Eduardo, que é suspenso Ogan de Odé.
Maria Moreira Maia é um dos grandes exemplos de uma mulher de força, garra, fé, bondade, perseverança e caráter entre as mulheres que contribuíram para perpetuar o culto aos Orixás. Tenho certeza que seu nome e seus ensinamentos serão lembrados todos os dias por muitos e muitos anos.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Consumismo e Candomblé


As tradições africanas que são reproduzidas nos cultos afro-brasileiros dos Candomblés preservam muitos ritos milenares, como por exemplo, o sacrifício e as oferendas. Tais práticas sempre foram comuns em muitas e diferentes religiões. A oferta espiritual de alimentos para energias não materializadas representa uma canalização de energia. Os alimentos são carregados de energia vital. E oferecer essas energias à entidades espirituais é fortalecer, “alimentar” a harmonia entre o indivíduo ou grupo que cultua com a própria entidade.
O vinho e o pão da liturgia cristã têm o mesmo significado. O sacrifício a que Jesus se submeteu é representado pelo sangue e o corpo à qual alimentam a alma dos fiéis. É, simbolicamente, um tipo de sacrifício que se ritualiza nas missas e cultos cristão. Oferece-se aos fiéis a energia vital e espiritual de Jesus.
No Candomblé a essência dos sacrifícios e das oferendas, como já mencionado, está na energia vital, tanto do alimento vegetal quanto do sangue animal. Um alimento, ou mesmo a vida de um animal, que é oferecido ao Orixá contém uma intensa e complexa carga de energia vital, que, complementada com os devidos orikis e adurás (rezas faladas e cantadas) adquirem um poder sem medidas. São ensinamentos transmitidos e reproduzidos há milênios.
Um dos maiores tabus que a religião enfrenta perante a sociedade é a questão do sacrifício animal. Genericamente associado às feitiçarias e maldade, o sacrifício animal levanta duas graves questões: a prática irresponsável por parte dos terreiros e o desperdício de alimentos. A primeira questão é o comum questionamento: mata-se para fazer o mal? Quando se submete o sangue vivo de um animal a um determinado fim acontece uma canalização de energia para a realização de tal fim. E esse fim pode ser positivo ou negativo. Quem implanta o mal, ou o bem, é o sentimento humano e não o Orixá. Tal questão envolve a responsabilidade ética do praticante e sua moral perante o que é certo e o que é errado. Qualquer oração, devoção, “simpatias”, feitiços, rezas são formas de canalizar energias para um determinado fim. Assim como é possível se matar um animal para o mal é possível se rezar um “terço” para o mal. Depende do coração e da mente do orador, do devoto.
Atualmente vivemos uma crise, uma completa distorção dessa tradição tão importante e poderosa dentro do culto aos Orixás no Brasil, o que nos remete ao problema em relação a sacrifícios e oferendas.
O consumismo ocidental de nosso tempo passou a permear as práticas das oferendas e dos sacrifícios praticados pela Umbanda e pelo Candomblé. É muito comum presenciarmos verdadeiros desperdícios e poluição em cachoeiras, matas e praias por parte dos adeptos dos Orixás. Garrafas, pratos, vasilhames de todos os tipos deixados na natureza, contendo quilos e litros de alimentos e bebidas que são oferecidas aos Orixás. Despachos em sacolas plásticas. Sabonetes, pentes, espelhos, perfumes e xampus deixados a esmo. Ebós com quilos e quilos de comida. Praticantes que enxergam na quantidade a qualidade e força da louvação. Pessoas que não tem consciência de que o local mais sagrado para essas religiões é a própria natureza, e daí a importância do cuidado a ela. Enquanto tanta gente passa fome no mundo todo, quilos e quilos de alimento são desperdiçados pelos candomblecistas e umbandistas sem consciência da essência de sua própria religião. Como os Orixás vão abençoar o desperdício de alimentos e poluição de seu principal e mais sagrado templo.
Em orôs (sacrifícios) de iniciações e obrigações, matam-se inúmeros animais, inclusive silvestres como tartarugas, cobras, faisões, lagartos. Matam-se animais que não se come. E mesmo, em muitos casos, os animais comuns de alimentação como frangos e cabras não são consumidos. Quilos de carne são despachados com a idéia de que o Orixá irá comer.
Aos praticantes é necessária a compreensão de que a essência da oferenda é a reza, a fé, e que o alimento e a bebida são símbolos. Os Orixás se alimentam da energia cósmica, vital e imaterial desses elementos. Tais produtos carregam a energia vital em sua essência e não em sua quantidade. 5 quilos de feijão preto não agradarão mais que 100 gramas. 100 gramas com fé, com respeito e coração, agradarão muito mais do que 5 quilos, sem coração e fé. Uma iniciação com uma angola e dois frangos não é menor do que com um boi, quatro cabras e 16 frangos. Mal sabem os adeptos que o sangue mais importante da religião é o das folhas. Não se inicia ninguém sem folhas, mas com apenas um animal é possível. Depende muito mais do domínio litúrgico sobre atos e rezas do que da quantidade de comida e de animais. É, até mesmo, uma falta de respeito aos próprios Orixás desperdiçar tanto alimento em seu nome.
Não é necessário sacrificar vários animais, principalmente exóticos como tartarugas, faisões, cobras, lagartos, para o iniciado ser realmente iniciado. Inclusive, em muitos casos se matam animais sem se saber as devidas palavras. Sem utilizar as devidas folhas.
Quantidade não é qualidade. E como já mencionado, existem terreiros, casas, centros que rezam as oferendas e depois jogam fora. Despacham quilos e quilos de carne, frutas e comidas em geral que poderiam ser consumidas pelos próprios praticantes, ou mesmo doadas. Mas são desperdiçadas com o nome de despacho.
Muitos praticantes do Candomblé e da Umbanda sofrem de um mal que precisa ser superado. Esse mal se chama ignorância. Falta de conhecimento e consciência sobre a essência da própria religião.

Em Agosto

Em Agosto a gente pede agô.

Em Agosto agô significa perdão. 

Em Agosto é o mês que o Candomblé até parece ser cristão.  

A gente pede perdão, faz caridade até sem querer, quase por obrigação. 

Em Agosto a gente dá esmola como se fosse penitência. 

E tem que dar pra qualquer um, sem fazer julgamento se merece ou não. Pois no Candomblé quem julga é Xangô. E em agosto não se faz julgamento, só se doa o que tem e se pede perdão. 

Em Agosto Omolu, também dito Obaluayê, Zapatá, Xapanã e Cafunã, é quem reina na retidão da humildade, da caridade e do perdão. 

Agô senhor Omolu, que lá das terras keregebes nos traz sua força e seu saber ancestral, que me ensina e me doutrina, a fazer aquilo que é mais custoso pro nosso ego e vaidade, que é perdoar e ajudar sem ver a quem e sem julgar. Asé Babá!

#aiôro #omolu #olubajé

Coisas de asé

Antes do xirê tem ebó 
Tem orô e bori 
Sassanha pra tomar maianga
Tem perfuré antes do rum de babami
O paó é antes e depois 
Padê de Onam despachado na porta com omi e otim não pode faltar
Adjá, inam, enin pra rezar babalaxé 
Abian de surrão porque nem tudo pode ver
Iaô de erê pra dar os ossé nos oberós e nos ibás
O xére, só pra egbome, quando sobe no ilê faz todo mundo ir ao ló
E é aí que ogan é Ekede tem que dar conta de puxar e responder aduras e orikis 
No aguerê, no bravum e na vamunha 
Não pode parar o rum, o rumpi e o lê. 


#candomblé #orixás #culturaafrobrasileira #comunidadedeterreiro


Rumo à civilização

Existe uma grandeza histórica no Candomblé que a gente precisa muito reforçar, especialmente na cabeça das crianças. 

Essa grandeza é que o Candomble é uma doutrina que preserva conhecimentos, tradições e visão de mundo de grandes e avançadas civilizações. Iorubás são como os gregos, com filosofia, numerologia, botânica, oraculos matemáticos, mitologias, personagens heróicos que erram e acertam como humanos, valores antropocêntricos. 

A língua banto é como o Latim. Uma língua mãe com dialetos e subdivisões culturais e étnicas, com diversidade e ao mesmo tempo similaridades entre todos os povos falantes da língua banto. 

O Candomblé não é só afro. Ele é afroindígena. Tupis e Guaranis também são como gregos e romanos. Civilizações com visão de mundo e formas de organização próprias. 

Os gregos e romanos são a base da civilização europeia, e isso aconteceu quando os cristãos passaram a valorizar a cultura greco-romana com o iluminismo. 

Talvez o dia em que nós brasileiros realmente descobrirmos a grandeza dessas civilizações que existem e resistem aqui, aí seremos uma civilização brasileira.

Quanto valeu cada trabalho?

Todos temos potencialidades, habilidades e vocações. E todas são importantes. Alguém que tem a disposição e capacidade de dedicar-se aos estudos da medicina teria a mesma disposição e capacidade se se tornar um pedreiro? Ou um faxineiro? Aquele com vocação intelectual para as ciências teria a disposição física para trabalhos que demandam força e resistência física? Não há medida para a valorização do trabalho. Não há medida em dinheiro que mensura o real valor de qualquer trabalho. E se a lei da oferta e da procura se responsabilizar por tal medida, a valorização será de acordo com as estruturas sociais e políticas que vigoram. E tais estruturas não oferecem as condições de formação e especialização em determinadas funções. Outra questão ainda mais essencial é que essa mesma lei muda a relação humana com o trabalho. O trabalho deixa de ser uma atividade voltada para o bem estar coletivo e serviço à sociedade. Deixa de sem uma contribuição social de cada indivíduo em função da necessidade coletiva. A lei da oferta e da procura desumaniza o trabalho. Sua função. Sua essência. Os serviços de um médico se tornam um produto. Ou seja, a capacidade de salvar e cuidar de vidas será trocada por um determinado valor em dinheiro. E quem não tiver essa quantia não terá os serviços. Do mesmo modo o professor. Um médico seria um médico sem um professor? Existiram ofícios sem professores, mestres? E por que um médico, ou um juiz, ganham tão a mais que os professores? Há medida para o valor do conhecimento? Dos valores humanos? Portanto qual é a medida para a relação entre trabalho e renda?

terça-feira, 1 de outubro de 2024

No candomblé a dança não é só dança

 A dança no xirê é composta por uma série de gestos que simbolizam cada Orixá. Cada gesto é uma reprodução da essência do Orixá.

Ogum que guerreia em um constante cortar de espadas.

 Odé reproduz uma agilidade de movimentos rápidos que vem e vão de um lado para o outro. A agilidade típica de um caçador.

 Ossãe que bate suas folhas de um lado para o outro. 

Omolu que dança voltado para a terra e esbanjando a elegância, com suas palhas, comuns à um rei, o Rei Dono da Terra. 

Oxumarê demonstra a constante transformação que representa em seus movimentos diversificados, hora como gente, hora como cobra. 

Nanã que caminha lentamente sobre seu barro expressando a calma, a paciência e ao mesmo tempo a seriedade que lhe cabe. 

Oiá que provoca a ventania que nos sopra e em seus momentos de guerra corta com sua espada como Ogum. 

Obá com as mãos na orelha perdida por causa de seu amor representa também uma guerreira e caçadora que estende suas mãos de um lado para o outro para mostrar sua coragem, determinação. 

Ewá eleva, com as mãos, o seu poderoso olhar da terra para o céu expressando a importância de sua regência, que é a visão que vê além dos olhos. 

Oxum esbanja uma sensualidade meiga e doce ao ritmo do jexá. Com as mãos protegendo o ventre e segurando as belíssimas roupas. 

Logun Edé que caça e esbanja juventude em movimentos que expressam as características de Odé e Oxum. 

Xangô, com seu machados, expressa a imponência de um verdadeiro rei ao ritmo do alujá, com movimentos firmes e constantes e, por vezes, erguendo e girando seus machados, ou oxês, demonstrando seu poder sobre o trovão. 

Yemanjá, a grande mãe que reproduz o movimento de vai e vem dos mares e oceanos. Expressa o amor materno e familiar em seus atributos. 

Oxaguiã o jovem orixá da paz e da proteção. Com seus atoris vai à guerra pela defesa. 

Oxalufã, o grande ancião e mais experiente orixá. Um dos criadores do mundo e dos homens segundo a mitologia dos orixás. Emana paz, compreensão e tolerância em seus símbolos e atributos.

O Candomblé é lindo não é mesmo?

Educação antirracista

Muito se fala em educação antirracista. Muito mesmo. Virou até capital de currículo, marketing digital pra empresários e polítiqueiros da ed...