domingo, 29 de setembro de 2024

sobre Jesus

Primeiro vamos separar Jesus de todas as igrejas. e de todos os símbolos rasos e subjetivos sobre ele. vamos pensar nele como um cara muito foda. muito inteligente que teve acesso a instrução teológica, filosófica, oratória (tradicional e usual entre os judeus). era um cara corajoso e inquieto. 

ele tava sempre puto e indignado com a aquela sociedade hipócrita desde os 11 anos de idade. aquela sociedade onde só quem era cidadão e tinha direitos eram os romanos. os fariseus eram aquela elite que ditava as regras e só era filho de Deus quem fosse hebreu. e Jesus, como judeu, achava aquilo um absurdo. distorcer toda a filosofia do antigo testamento ( a Torá), em nome de interesses e manutenção de poderes. 

ele ficava muito puto em ver todo mundo julgando todo mundo. naquele tempo a lei era literalmente "olho por olho, dente por dente". Essa ideia de igualdade não fazia sentido pra quase ninguém. 

o Estado romano não significava nada pra Jesus, não era disso que ele falava. Dai a César o que é de César. Jesus falava da atititude individual, imediata. não falava de estrutura, nem de política pública. ele falava simplesmente de olhar pro outro como irmão. e se esse outro por acaso tivesse erro, que fosse perdoado. que vingança é a verdadeira maldição. 

e muita gente torceu o nariz e distorceu o que ele disse. e o povão da região, na cegueira da ignorância de seu próprio de tempo, pediu foi a cabeça daquele... (não imagino do que era chamado, mas se hoje fosse seria vagabundo, arruaceiro, comunista e marginal). 

mas falar o que pensava não era crime de acordo com a lei romana. então não se podia condenar. e aí, pra cumprir o protocolo do direito e da justiça romana de que ninguém pode pagar por crime que não aconteceu, trocaram, de forma vista e assumida, um bandido declarado e comprovado, o Barrabás, por Jesus, que crime não tinha, a não ser ter falado o que pensava. 

Pilatos lavou as mãos. com aquilo não tinha nada. o povo gritou e insistiu, ver mais um crucificado. e de toda gente que gritou pela cabeça daquele depravado, quase ninguém nem sabia quem ele era ou o que tinha falado. como se fosse o nosso gado que segue tocado pro matadouro, repetindo a raiva sem saber nem mesmo porque ou de onde vem aquela ódio descontrolado.  

ele foi torturado e condenado. morreu e virou memória, símbolo e referência. para o bem e para o mal, sua mensagem foi apropriada. como tudo o que é grandioso, sua imagem foi distorcida e instrumentalizada por uns, exaltada e potencializada por outros. 

ao mesmo tempo que se constrói um império espiritual cruel e autoritário sob a elite romada e judaica que criam a igreja, se espalha a mensagem profunda e latente da fraternidade, do amor, do perdão, da igualdade. e de forma proporcional Jesus vira um instrumento de dominação e aculturação por um lado, e por outro símbolo de um pensamento que propõe uma outra concepção sobre a humanidade. uma concepção que elimina as diferenças étnicas e culturais que tanto dividiam e confrontavam as culturas e povos não cristãos. a partir do cristianismo (como filosofia) a ideia de escravidão passa a ser questionada e abolida. Onde o cristianismo chegava a escravidão era questionada. 

e de novo, vamos separar cristianismo de igrejas, e de política e de poderes. a ideia cristã de igualdade, fraternidade, solidariedade, caridade, amor e perdão, são ainda as ideias que dão sentido racional a fé cristã. 

se os ditos cristãos fossem de fato seguidores e multiplicadores daquilo de Jesus ensinou, seríamos uma humanidade melhor. 
#felizpáscoa

Mitologia brasileira

Toda civilização tem sua mitologia. E nós brasileiros colonizados temos várias mitologias na mentalidade, na fé e na cultura do povo. 

A mitologia Iorubá (tronco linguístico original da região da Nigéria e Benin) é viva no Brasil. Inspira e conduz a formação moral e ética de muitas pessoas, ou melhor, de boa parte do povo brasileiro. 

Os Orixás e o Candomblé tem como base teológica a mitologia Iorubá. E cada orixá, cada itan, ou lenda, traz significados fundamentais aos valores humanos. 

Um exemplo. 

Ossãe: o guardião das folhas. Folhas que contém as mais sagradas propriedades. De curar, matar, seduzir, iludir, enganar, acalmar, esfriar, esquentar, perturbar. Guardião do segredo sobre as folhas. Das palavras mágicas que ativam e controlam as propriedades das folhas. Seu domínio fez de Ossãe o detentor do poder sobre muitas coisas. Confiante de sua exclusividade, Afirmava aos quatro cantos, em tom egoísta e imperativo: Ewêwê, minhas folhas, minhas folhas! De repente uma ventania inexplicada toma conta de toda a floresta e derruba ao chão a cabaça dos segredos de Ossãe. Desesperado ele tenta recolher suas folhas, mas era tarde. Todos os Orixás pegaram para si aquelas que lhe interessavam. Oyá, com seu poder sobre os ventos, atentada pela sua própria curiosidade e atendendo ao pedido de Xangô, tirou de Ossãe aquilo que ele mais prezava: a exclusividade sobre as folhas e seus segredos. Ossãe foi obrigado pelo destino, ou por obra de Olodumáre, a superar seu sentimento egoísta de ser o único dono das folhas. Porém, Ossãe não perdeu o mais importante. Nenhum vento ou tempestade pode destruir ou roubar o conhecimento. Ossãe continuou detendo o poder da palavra, dos Orikis necessários para usar as folhas. Assim, os Orixás passaram a ter as folhas mas não os Orikis, dependo então do licença de Ossãe cada vez que fossem utilizá-las.

Por que evangélicos neopentecostais odeiam tanto as religiões afro?

Concorrência. Tantos os terreiros e centros de umbanda e candomblé quantos as igrejas neopentecostais se concentram nas periferias e favelas. Elas disputam um mesmo público em um mesmo espaço geográfico. Nas favelas e periferias estão as piores e mais frequentes mazelas. Drogas, violência doméstica, violência do tráfico, violência da polícia, falta de hospitais e escolas decentes. Na favela está concentrado o sofrimento geral que a pobreza causa. E tanto pastores e pastoras quanto pais e mães de santo estão atendendo e consolando essa gente sofrida. 

Cada uma consola a seu modo. 

Porém é comum as igrejas neopentecostais declararem ódio e intolerância abertamente contra "macumbeiros" como uma estratégia de manipulação e proveito da ignorância alheia. Um evangélico que mora na favela sempre tem um vizinho macumbeiro. O discurso do medo, do diabo, do feitiço, um pensamento medieval que ainda custa a vida e a honra das pessoas. 

Um macumbeiro não tem um evangélico como inimigo, a não ser que tenha sido vítima de intolerância. A maioria dos centros de candomblé e umbanda não funcionam como empresas. Funcionam mais como casa de caridade do que qualquer outra coisa. Igrejas não são concorrência para centros. 

No Brasil a ignorância das pessoas dão muito lucro e segurança pra esses verdadeiros demônios ladrões que ficam bilionários com a falsa fé alheia. 

É fato que há igrejas realmente evangelizadoras, assim como existem picaretas se passando por Pai ou Mãe de santo. É preciso saber separar o joio do trigo em todas as religiões, grupos e culturas. 

As igrejas e centros deveriam unir o povo periférico e não separá-lo. E no quesito intolerância os falsos Cristãos são campeões.

Nosso Candomblé

Consciência vem da arte, música, culinária, moda, adereços, cabelo, jinga, ritmo. Vem da língua e dos sotaques. Dos verbos e substantivos. De Angola, congo, benguela, monjolo. Vem do Iorubá e do banto. De Oyó, Ketu, Ilê Ifé. Consciência Negra vem do Candomblé. Do nosso candomblé. Que reúne tudo isso e mais um pouco.

 No nosso candomblé tem moda. Panos, cores, laços e bordados. Uma verdadeira exposição de moda e design em que as belíssimas mulheres não precisam se valer de padrões, de corpo, de cor ou cabelo, mas apenas de sua natural feminilidade composta pela arte dos panos em seu corpo.

No nosso candomblé tem culinária. Amalá, Acarajé, Acaçá. Dendê, deburú, axoxô. Omolocum, Eboyá e aruá. Tem comida pra dar pro povo, pro corpo e pro ancestral. É comida de santo sagrada, agradecida e rezada.

No nosso candomblé tem artistas. Tem músicos, ritmistas, percussionistas com tamanha maestria que conseguem fazer você deixar de ser você só com o baque do atabaque, do Run, Rumpí e Lê. Tem bailarinos e bailarinas que dançam passos e coreografias, com uma jinga e malemolência que apenas lá, no nosso Candomblé é que vemos. Tem artesãos e estilistas que produzem roupas, laços, adês, capacetes, colares e adereços dos mais variados tipos.

No nosso candomblé tem inclusão. Tem gay, lésbicas, heteros, bis, trans. Tem bandido e tem polícia. Professor e analfabeto. Estudante, vagabundo, maconheiro, caloteiro. Costureira, operário e faxineira. Tem surdo, manco, autista. Tem pobre, e quase não tem rico. Tem branco, preto, mestiço. Velho, jovem e criança. Casado e solteiro. Avó, tia e primo. Tem gente de todo jeito convivendo, compartilhando, cantando e dançando. Pedindo benção e abençoando. Gente que cuida dos filhos dos outros como se fossem seus.

 No nosso candomblé, a senhora que de dia é doméstica em casa de branco rico, a noite no terreiro é rainha, com súditos que batem cabeça no chão, em sinal do mais profundo respeito.

 No nosso candomblé é o lugar onde qualquer pessoa é sagrada, pois carrega em si um ancestral. Um Orixá sagrado que vive no canto, no prato, na pedra, no mato, no vento, no gesto dançado, no tempo que passa e na memória que fica.

 O nosso candomblé é o que há de mais completo em tudo que tem de bom em ser gente. Natureza, família, humildade, união, tradição, coletividade, comunhão, arte, cultura, fé, devoção. Tudo é o que é. Tudo isso é o Candomblé.

Caridade e Candomblé

No Candomblé não tem "de graça" e caridade é rito só em agosto. O resto do ano é rotina opcional de acordo com seu caráter. 

O asé, ou axé, é FORÇA. Força de espírito, boa saúde, vitalidade, o que move a vontade e todas as coisas que se movimentam no mundo. 

O dinheiro é asé porque vem do seu suor (ou do suor de alguém). O trabalho é asé, o esforço é asé. Qualquer esforço é asé.  

A comida é asé. Quando fazemos nossos Candomblés, ao final, quase sempre me emociono (dentro de mim, quietinho). 

Ver um "tantão" de gente, criança, idoso, gente que a gente nem  conhece comendo, bebendo e comemorando uma pós louvação com muita música e dança e asé. E quando sei que toda aquela comida e bebida eu ajudei a oferecer, com o meu a$é, eu sinto muito asé.  

Cada um que tá comendo, bebendo e sorrindo deu muito asé pra nossa casa quando cantou e dançou com fé aquele xirê. Cada um que cozinha, carrega, serve, limpa dá seu asé naquele Candomblé.  

Não existe caridade, não existe ostentação. É só espírito de comunidade que tem que ter todo Candomblé.

Subjetividade no conceito de Deus

Um fenômeno muito peculiar está ocorrendo no Brasil. Uma acelerada escalada de um fascismo neopentecostal nos poderes politicos e jurídicos. Religião e política se misturando na sua forma mais tóxica possível. 

E não há melhor antídoto para tal veneno do que o pensamento e o conhecimento.  

Falar sobre deus, religião e fé é necessário,  mesmo pra quem não tem. 

As discussões e concepções acerca de DEUS deveriam evoluir de um mero ponto de vista no qual DEUS é imagem e semelhança do homem, e atua com consciência sobre o mundo e sobre as pessoas, para outras formas de perceber isso.

 Por exemplo, muitas culturas religiosas consideram DEUS uma força cósmica que não necessariamente tem consciência, vontade. Deus é a própria essência do universo. É o próprio universo. E no universo não existe bem e mal. Existem forças opostas, que podem estar em equilíbrio ou não.

 E quem estabelece esse equilíbrio são as próprias forças e não Deus. DEUS, então, não é a representação do bem. É a representação da existência das coisas. Da vida, da energia universal. Deus, Adão, Eva, a Maçã... mitologia. Riquíssima, valiosa. Mas mitologia.
 Eva é a contestação da autoridade em pessoa. A própria Anarquia. Deus o Todo Poderoso só o é por monopolizar o o Conhecimento. Adão é o servo obediente. A maçã o próprio conhecimento (poder de Deus). 

Tudo isso é uma concepção (hebraica) riquíssima da essência das relações políticas e culturais que tem como alicerce poder e conhecimento, que no fim são as mesmas coisas.

Quaresma e macumba

Na cultura afro bantu/iorubá original não tem quaresma. Só que no Brasil já se passaram 500 anos de sincretismos afroindígenacristãos. Então é natural que tenha surgido diversas relações entre a macumba e a quaresma. 

No Candomblé de nação, com o Xirê dos Orixás e os atos e festas anuais próprias, a quaresma não exerce quase nenhuma influência. Já nos cultos da Umbanda, nos encantados e guias, há sim bastante influência pq essas entidades são resultado justamente dessa espiritualidade sincrética que envolve o catolicismo. 

Por exemplo, no culto da Umbanda se divide as entidades entre esquerda e direita. As entidades de esquerda são relacionadas à Exú, que por sua vez é sincretizado com o Diabo cristão. Daí ocorre que o culto aos Exús e Pomba Giras (seria então a versão feminina dessa entidade Diabo) se expande e se estende como um contraponto espiritual na religiosidade sincrética. Eu quero dizer que no Brasil existe um certo "culto ao Diabo" na figura dos Exús e Pombo giras por aí. Procura no Google "gira de Exú", e vc verá tridentes, fogo, cartolas, charutos, capas de de vampiro, corpetes e decotes da era vitoriana, e toda uma estética muito mais europeia gótica vampírica do que de fato uma estética afro. (Salvo as devidas proporções e variações disso) 

E não tem nada de errado com isso. É a cultura, ela é livre e o sincretismo também.   

Mas e a quaresma? Então. 

A quaresma é o período em que o Diabo tá atentando Jesus, o período que essa força tá solta na terra. Período de se fazer penitências da carne, do corpo. ( de acordo com rasas interpretações das metáforas bíblicas). Aqui no Brasil, no universo do sincretismo afro-brasileiro, muitos adeptos dos Exús e Pomba Giras dedicam cultos, homenagens e oferendas. E essa relação não é necessariamente consciente e objetiva. Ela acontece culturalmente, sem muita lógica ou planejamento teórico conceitual. Só acontece, assim como muitos outras expressões cristãs muito próprias das macumbas brasileiras. 

E tem pra todo lado nesse brasilzão. Tem curiosidade procure pelo terreiro mais perto de sua casa e se informe quando será a "gira de esquerda". É muito interessante, e a energia intensa. 😉👌🏹

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Muito se fala em educação antirracista. Muito mesmo. Virou até capital de currículo, marketing digital pra empresários e polítiqueiros da ed...